Informe

UFF participa de exposição sobre memória climática das favelas do Rio

A exposição “Memória Climática das Favelas”, organizada pela Rede Favela Sustentável (RFS), contou com a participação de estudantes do curso de Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF) e reúne histórias, reflexões e denúncias sobre as mudanças climáticas vividas em dez favelas cariocas. A mostra é gratuita, aberta ao público e ficará em cartaz no Museu da Maré, de 3 de maio a 30 de julho.

Elaborada coletivamente, a exposição nasceu do conhecimento produzido em dez grandes rodas de conversa realizadas entre 2023 e 2024 em diferentes favelas da capital fluminense: Museu da Maré (Maré), Museu Sankofa (Rocinha), Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (Antares), Museu de Favela (Pavão-Pavãozinho/Cantagalo), Núcleo de Memórias do Vidigal (Vidigal), Alfazendo (Cidade de Deus), Centro de Integração da Serra da Misericórdia (Complexo da Penha), Museu do Horto (Horto), Fala Akari (Acari) e Conexões Periféricas (Rio das Pedras). Esses encontros foram organizados por onze museus e núcleos de memória integrantes da Rede Favela Sustentável (RFS), junto de aliados técnicos.

A professora Raquel Giffoni Pinto, vinculada ao Departamento de Análise Geoambiental da UFF, foi uma das colaboradoras da elaboração da linha do tempo e dos materiais expositivos. Segundo ela, a experiência foi profundamente transformadora. “Foi um aprendizado imenso. Conhecemos as lutas históricas e cotidianas de cada favela, o cenário de grave injustiça ambiental nestes territórios, mas também a grande sabedoria e força coletiva das moradoras e moradores que se organizam de múltiplas formas para exigir seus direitos de cidadania. Simultaneamente a essas lutas, desenvolvem iniciativas de museologia social, coleta de resíduos, segurança alimentar e nutricional, arte, educação, etc., revelando a riqueza destes territórios”, relata.

O convite para integrar o projeto partiu de Gisele Moura, egressa do curso de Ciência Ambiental da UFF e atual coordenadora de gestão da Rede Favela Sustentável (RFS), responsável pela articulação das atividades. Para a professora, a iniciativa é um exemplo de como a articulação entre universidade, territórios periféricos e memória coletiva é fundamental para a construção de políticas públicas mais justas.

Ela ainda explica que no Brasil e no mundo, os riscos e danos ambientais estão destinados, majoritariamente, às comunidades empobrecidas e racializadas. “As políticas públicas que se pretendem democráticas devem ouvir o que essas comunidades têm a dizer, pois eles são os que primeiro e mais intensamente sofrem os efeitos da ausência de proteção ambiental. As moradoras e os moradores organizados que ouvimos nestas rodas sabem bem o que deve ser feito, sabem o que seria justo e eficaz e o que não vai funcionar. A universidade tem muito a aprender com esses conhecimentos desenvolvidos nas favelas, e também tem o dever, como instituição pública, de se envolver e contribuir com o que for necessário”.

A exposição oferece uma experiência sensorial completa ao público, contando com um circuito expositivo com banners de apresentação das rodas de memória em cada local, exibição de vídeos que documentam as reflexões dos moradores sobre mudanças climáticas, uma extensa linha do tempo com 60 acontecimentos marcantes da história climática das favelas do Rio de Janeiro, poço das memórias com 300 recordações fotográficas destas favelas e um mapa interativo com experiência cartográfica afetiva.

Além de abordar os impactos das mudanças climáticas, a exposição reforça o protagonismo e o conhecimento ancestral das comunidades. “A exposição revela as injustiças e o racismo ambiental nas favelas, mas também busca a valorização do conhecimento ancestral destes territórios. A exposição coloca as favelas como centrais nas discussões sobre mudanças climáticas”, completa.

Entre os participantes da UFF, também estiveram as estudantes de Ciência Ambiental Brenda de Almeida Nunes e Bruna Nunes Vieira, que relataram a importância da experiência. “Participar da elaboração dessa exposição foi uma experiência extremamente gratificante. Como alguém que nasceu e viveu por 22 anos em uma comunidade, foi muito significativo poder fazer parte de um projeto e auxiliar uma Rede com esse alcance, que dá voz às favelas, à comunidade e às pessoas que, muitas vezes, não são ouvidas”, destaca Brenda.

Bruna também ressaltou o aprendizado proporcionado pelo projeto. “Participei da elaboração da exposição por meio de pesquisas sobre a história das favelas a partir dos relatos feitos pelos moradores. Aprendi muito sobre a história do Rio de Janeiro e sobre como a memória é uma forma de conhecimento, de educação e de resistência. Esse processo me proporcionou experiências em novos locais, como o Museu da Maré, que eu não conhecia”.

A exposição está aberta ao público gratuitamente até 30 de julho no Museu da Maré, localizado na Av. Guilherme Maxwell, 26 – Maré, Rio de Janeiro (RJ).

Dados do informe

28/05/2025

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