No contexto da “Década Internacional das Línguas Indígenas”, instituída pela ONU/UNESCO, o Laboratório de Imagem e Som (LIS) da Universidade Federal Fluminense (UFF), sediado no Instituto de Letras, lançou o seu primeiro podcast: “Quantas línguas falam o Brasil?”. A iniciativa integra o projeto Rádio Letras, dedicado à criação de podcasts investigativos sobre estudos de linguagem e literatura, que conta com o apoio da Faperj.
O episódio inaugural propõe reflexões sobre a diversidade linguística dos povos originários brasileiros e as diferentes visões de mundo que essas línguas expressam. Participam do debate a professora de Antropologia Oiara Bonilla (UFF) e a professora de Língua Portuguesa Luciana Sanchez Mendes (UFF), a professora de Linguística e Antropologia Bruna Franchetto (Museu Nacional/UFRJ) e o professor indígena e mestrando em Linguística Edilson Paumari (UFRJ).
O idealizador do projeto, professor Adalberto Müller, do Instituto de Letras da UFF, explica que a ideia do podcast surgiu de sua própria pesquisa. “Minha pesquisa na Faperj trata de uma releitura da literatura brasileira a partir de uma perspectiva indígena. Busco repensar a representação dos povos indígenas (no meu caso, dos povos da família Tupi-Guarani), de suas culturas, e sobretudo de suas línguas em textos clássicos da literatura brasileira, que vão desde a Carta de Caminha até Iracema. Como estudioso também de línguas tupi-guarani, comecei a perceber que as concepções de mundo veiculadas por essas línguas poderiam enriquecer as nossas próprias perspectivas sobre a vida, sobretudo em tempos de grandes desajustes climáticos e do fracasso de um modelo cultural e econômico baseado na ideia de progresso”, explica.
O episódio já lançado aborda a diversidade linguística no Brasil, com foco em línguas como o Kuikuro, estudado por Bruna Franchetto, e o Paumari, objeto de pesquisa da professora Oiara Bonilla. “Tivemos a sorte de contar com uma pessoa indígena, o Edilson Paumari, que é da etnia Paumari do Amazonas, e também é um linguista em formação. E com a minha colega Luciana Sanchez Mendes, que é uma especialista em semântica, e ao mesmo tempo uma estudiosa de línguas tupi-guarani”, ressalta.
Segundo o professor, o formato sonoro foi escolhido estrategicamente. “Estudei muito os programas de rádio de Orson Welles, e me baseio neles para tentar criar um novo espaço de discussão acadêmica e cultural, em que as questões teóricas e científicas possam ser apresentadas de forma mais democrática, para que qualquer ouvinte entenda sem ter que ler uma bibliografia e sem ter que necessariamente deslocar-se de onde se encontra (embora ambas as coisas tenham as suas funções). Acho que também estamos vivendo uma ‘nova onda’ de radiofonia, em que os podcasts se tornam protagonistas”, ressalta
Para o professor, a valorização das línguas indígenas é essencial. “Cada língua veicula uma concepção ou uma perspectiva diferente de mundo e de vida. As 160 línguas faladas no Brasil, que apenas alguns especialistas conhecem, podem nos oferecer visões de mundo inéditas e inauditas sobre nosso tempo, e sobre as saídas que podemos encontrar para nossos problemas. Sempre dou o exemplo da língua guarani, que tem uma palavra, ‘teko’, que significa mundo, modo de viver no mundo, vida e Ser. Os Guarani acreditam que o fundamental na existência é buscar o ‘teko porã’, o bem viver ou o viver lindo (como eu traduzo), ou seja, uma forma harmônica de viver consigo mesmo e com o mundo, com a natureza”, conta.
Segundo Adalberto, a repercussão do podcast tem sido excelente. “Estamos em três plataformas, Spotify, Soundcloud e Youtube, e temos tido respostas positivas vindo desde os rincões da Amazônia até o Vale do Silício”, comemora.
Para ouvir o episódio “Quantas línguas falam o Brasil?”, acesse o SoundCloud, o Spotify ou o YouTube.
Para outras informações, acesse o site do Laboratório de Imagem e Som – LIS/UFF.