Projeto da UFF promove Educação em Computação para Meninas e Mulheres da Educação Básica

Crédito da fotografia: 
Créditos: Francine Brasil. #ParaTodosVerem Na sala de aula, estudantes em carteiras azuis acompanham a apresentação das professoras no quadro branco, com cartazes educativos nas paredes.
Ação quebra estereótipos e auxilia estudantes a entrarem no mercado de trabalho na área de tecnologia da informação

Há oito anos, a Universidade Federal Fluminense (UFF) executa um projeto de inclusão de sucesso: o Include Meninas. Sob coordenação da professora Luciana Salgado, do Instituto de Computação (ICUFF), o projeto de extensão tem como objetivo despertar o interesse das mulheres - alunas do Ensino Médio e Fundamental - nas carreiras da área de Computação. Iniciado em 2016, o projeto acumula três prêmios e foi referência para dez trabalhos acadêmicos.

Na prática, são realizadas palestras presenciais, oficinas, rodas de conversas, aulas eletivas de programação e visitas à UFF. As atividades são abertas a todas as pessoas  interessadas, porém somente profissionais e estudantes mulheres  as conduzem, a fim de serem exemplos de sucesso e empoderamento feminino das áreas de informática e exatas. Em parceria com a professora Karin Calaza, do departamento de Neurobiologia da Universidade, atua, principalmente, nas seguintes escolas de Niterói: a Escola Municipal Altivo César, o Colégio Estadual Paulo Assis, a Escola  Municipal Alberto Torres, a Escola Geraldo Reis e o Colégio Pedro II.

“Quando falamos das profissões relacionadas à computação nas escolas, notamos que as estudantes acham que só existe a profissão do técnico que conserta o celular, geralmente exercida por homens. Então, fazemos uma palestra introdutória sobre a área e respectivas profissões, juntamente com a professora Karin, que fala sobre o viés implícito e ameaça pelo estereótipo. Em setembro, as meninas vieram aqui no Departamento de Ciência da Computação, durante três semanas, para participar de oficinas intensivas de programação em Phyton, em nossos laboratórios”, explica a professora.


Créditos: Luciana Salgado
#ParaTodosVerem: Em sala branca, alunas da Prefeitura de Niterói usam computadores em carteiras pretas. A professora se dirige à turma diante de uma tela de projeção.

Segundo dados do Portal de Transparência da UFF, em 2023, as mulheres representam aproximadamente 12% do total de estudantes matriculados no Departamento de Ciência da Computação. Dessa maneira, iniciativas como essa são essenciais para criar oportunidades equitativas, contribuindo para uma maior representatividade de gênero no campo da tecnologia.

As ações do Include se estendem às estudantes do ensino superior, a fim de criar espaços de acolhimento dentro da universidade. Ao longo de 2023, por exemplo, estudantes  dos cursos de ciências da computação e sistemas de informação participaram de rodas de conversa e palestras, que possibilitaram a troca de experiências com alunas egressas sobre as oportunidades do mercado de trabalho.


Acolhimento aos calouros e calouras de Ciências da Computação em 2023, promovido pelo DACC.
Créditos: Luciana Salgado
#ParaTodosVerem: Num auditório, estudantes universitários posam para uma foto, no chão à frente, em cadeiras e em pé, todos sorrindo e acenando para a câmera.

Ao longos dos oito anos de história, já passaram pelo Include Meninas mais de 50 alunas colaboradoras e bolsistas. Uma delas é Meirylene Avelino, formada em Ciência da Computação pela UFF, que foi extensionista e bolsista do Include Meninas e atualmente é analista de Segurança da Informação na Rede Globo. A especialista em tecnologia, que era a única menina na sala de Cáculo I quando entrou na universidade, destacou a importância do projeto tanto para sua formação quanto para sua vida profissional:

“Por mais que estivéssemos em um ambiente controlado dentro da universidade, éramos colocadas em frente às divergências entre o mundo masculino e feminino. Isso já abre um  pouco a visão de mundo e te deixa um pouco mais preparada para não entrar desprevenida no mercado de trabalho. Por mais que o choque ainda seja grande, ele ainda é um pouco menor. Então, vejo que o projeto me ajudou a não me deixar vulnerável diante das situações que enfrentei no ambiente corporativo”, afirma Meirylene.


Crédito: Meirylene Avelino.
#ParaTodosVerem: Em uma sala, uma mulher segura um papel com as mãos, com uma camiseta do projeto. Ao fundo, bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro, quadro branco e tela de projeção.

O projeto também contribui há dois anos na Escola Municipal Altivo César, localizada no Barreto em Niterói, que educa estudantes até o Ensino Fundamental II. Mesmo com o curto período de tempo, a diretora adjunta, Luciana Gonçalves, relata a experiência positiva observada nas alunas:

“Em 2022, já colhemos os frutos do projeto. Uma de nossas estudantes, Iasmin Cavalcante, de 17 anos, foi uma das selecionadas para o Instituto Federal para cursar Informática e o Include fez a diferença na vida dela por ser uma iniciativa voltada para a inclusão digital. Acredito que começar a transformação na base da educação, com projetos de inclusão que falam do protagonismo feminino, é importante para as mulheres, que sempre foram protagonistas em várias situações. Agora é a hora reconhecer esse lugar, para que seja normalizado e natural”, disse a diretora.

Iasmin demonstrava interesse pela área, chegando a criar sozinha um jogo antes de participar do projeto. Começou a integrar o Include a partir de uma recomendação da professora Carolina Ribeiro. Durante sua atuação de um ano no Include, não apenas participava das oficinas, mas também incentivava outras meninas a se interessarem por tecnologia. A estudante ressalta a importância do projeto para traçar seu futuro profissional. 

“Antes não tinha certeza do que queria fazer e era bem indecisa. Quando fui conhecendo melhor as oficinas e outras atividades, comecei a gostar muito, tanto que eu entrei para o Instituto Federal do Rio de Janeiro no curso de informática. Agora quero entrar em uma faculdade para seguir estudando sobre tecnologia”.


Crédito: Carolina Ribeiro
#ParaTodosVerem: Numa sala com cadeiras, um grupo de estudantes sentados assiste a uma apresentação da palestrante.

Para 2024, o Include prevê novas ações, visando ampliar a difusão do conhecimento e o número de meninas impactadas pelo projeto: “Estamos estruturando oficinas voltadas à programação em parceria com as professoras das escolas, com o objetivo de integrar o conhecimento sobre computação nas próprias disciplinas. Além disso, planejamos ampliar nossa atuação, estendendo as oficinas realizadas na UFF para as meninas de escolas públicas e privadas”.

A professora ainda revela o desejo de promover novas parcerias e se conectar mais com o público. “Gostaríamos também de fortalecer nossa presença nas redes sociais e no campus, incorporando o projeto em disciplinas específicas, e divulgando QR codes e cartazes sobre o Include nos blocos da universidade, e criando espaços de integração entre o Projeto Include Meninas com outros projetos dedicados à mulher em exatas da UFF: como o Empowerelas e o Women in Engineering (WIE). Também planejamos retomar as parcerias com a Indústria, promovendo visitas das estudantes às instalações corporativas. Acredito que essas são iniciativas que vão promover e aumentar a participação das mulheres no projeto”.

O Include Meninas recebe o apoio da Pró-reitoria de Extensão (PROEX-UFF), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e é parceiro do programa “Meninas Digitais” da Sociedade Brasileira de Computação.

A estrutura atual do projeto conta com a professora Luciana Salgado, quatro professoras colaboradoras: Aline de Paula Nascimento, Karin da Costa Calaza, Maria Cristina Silva Boeres e Simone de Lima Martins; três professoras bolsistas de escolas públicas; nove estudantes bolsistas do ensino fundamental e médio e duas bolsistas de iniciação científica, além de participações voluntárias de estudantes da UFF.

Mais informações sobre o projeto, acesse o perfil no Instagram no @includemeninas

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Luciana Cardoso de Castro Salgado é professora adjunta do Departamento de Ciência da Computação da UFF. É líder do SERG.uff, grupo de pesquisa em Engenharia Semiótica, membro do Comitê Especial Brasileiro de Interação Humano-Computador da Sociedade Brasileira de Computação, editora chefe do Journal on Interactive Systems, uma das coordenadoras do Programa Meninas Digitais da SBC e coordenadora do projeto “Include Meninas”. Pesquisa questões culturais e de gênero, teoria e métodos da engenharia semiótica, computação social e consequências em torno do fenômeno das redes sociais, aquisição de raciocínio computacional e interação humano-dados.

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