Você sabe o que é turismo de bem-estar?

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Professora da UFF explica esse segmento e divulga e-book que traz guia para experiências positivas em viagens

Hoje, viajar já não é suficiente; as pessoas querem desfrutar da viagem, buscar o desenvolvimento pessoal, a diversão, a descoberta de novas coisas e uma série de elementos que contribuem para a construção de identidades, memórias e histórias de vida. Tudo isso colabora para uma vida melhor, mais completa e mais feliz. Nesse sentido, a professora Verônica Mayer, da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica melhor o segmento de turismo de bem-estar e a importância de buscar o bem-estar ao viajar.

“Quando pensamos em viagens, estamos considerando uma dimensão que pode complementar a vida das pessoas. As viagens são estudadas há muito tempo como fonte de bem-estar, tanto físico quanto psicológico. Pesquisas nesta área, em um sentido mais subjetivo, têm se desenvolvido, e há uma preocupação crescente na psicologia, economia e medicina em melhorar os níveis de bem-estar das comunidades. Este interesse social reflete-se no turismo, onde as pessoas buscam experiências mais completas” afirma Verônica.

É nesse contexto em que se encontra o turismo de bem-estar, um segmento voltado para serviços atrativos e hotéis que atendem especificamente a pessoas em busca de bem-estar, ou mesmo do turismo de saúde, que é mais amplo e inclui viagens para tratamentos médicos e cirurgias.

“Existem diversas iniciativas, desde terapias e massagens até retiros para meditação, sejam eles religiosos ou laicos. Há também opções mais luxuosas focadas em perda de peso, melhoria estética e desintoxicação. O interesse por esse segmento cresceu ainda mais após a pandemia, quando as pessoas passaram a valorizar mais as viagens para promoção da saúde”, explica a docente. Segundo levantamento do Global Wellness Institute, o mercado global do turismo de bem-estar arrecadou mais de 650 bilhões de dólares em 2022, melhor número da série histórica desde 2019.


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“O setor de bem-estar no turismo tem se diversificado, incluindo opções mais acessíveis. As ofertas estão se desenvolvendo, incorporando o contato com a natureza, além de não serem mais limitadas às elites. Além disso, há uma conexão entre esportes e bem-estar, com um aumento na oferta de locais onde as pessoas podem praticar esportes durante as viagens. O interesse na melhoria do bem-estar subjetivo durante as viagens também cresceu, transcendendo a simples satisfação e considerando a experiência do turista de forma mais completa e humana”, acrescenta a especialista.

A professora Verônica conta que a partir de 2018 começou a oferecer uma oficina sobre bem-estar com práticas de meditação, onde ela demonstra que a prática é gratuita e qualquer um pode fazer em casa, a fim de melhorar seu bem-estar, ao contrário deste segmento no turismo, em que é necessário gastar dinheiro. “Nesse sentido, é possível aprender técnicas para melhoria do bem-estar subjetivo, não gastar nada e melhorar suas viagens ainda assim”.

Durante a pandemia, com o isolamento social, o mercado do turismo foi profundamente afetado. Sem a possibilidade do deslocamento, as pesquisas sobre a área tiveram que focar mais na subjetividade dos viajantes. Nesse contexto, a professora desenvolveu um conjunto de exercícios baseados no modelo PERMA, da psicologia, que caracteriza os promotores e redutores de bem-estar no indivíduo. Assim, os promotores do bem-estar em uma viagem incluem construir relacionamentos, buscar atividades de imersão que possam dar sentido à viagem, além do contato com estruturas físicas e ambientes naturais. Já os redutores de bem-estar envolvem a violação de expectativas, os conflitos interpessoais, ambientes estressantes, cansaço e fadiga.

A pesquisadora, em conjunto com estudantes de iniciação científica e mestrado, utilizou o Instagram para divulgar as técnicas e reuniu atividades que pudessem ser feitas em casa. “Todos os exercícios envolviam a promoção do bem-estar usando memórias, ou atividades relacionadas à viagem. Assim, as pessoas podiam criar suas viagens usando a imaginação, e a gente dava para elas a sensação de bem-estar usando essas técnicas”, explica Verônica.

Em 2022, ao testar novamente os exercícios e verificar sua efetividade, a professora e as alunas, Giulia Oliva e Letícia Cynara, resolveram escrever um e-book com o objetivo de transformar esse conhecimento sobre bem-estar em viagens em um guia acessível e útil para o público em geral. “Essa é uma tentativa de mostrar às pessoas que é possível transformar qualquer viagem em uma jornada que agrega. É uma forma de divulgar a ciência e a tecnologia para que os viajantes brasileiros possam aproveitar esse conhecimento em suas vidas diárias”, completa.

O livro aponta que as pessoas que viajam parecem ser mais felizes do que as que não viajam. De modo geral, as experiências e memórias de viagem tendem a produzir efeitos positivos nos indivíduos. Sendo assim, Verônica sugere que uma viagem que visa o bem-estar deve começar com um planejamento cuidadoso feito com antecedência.

“Prestar atenção no tempo entre atividades, evitar excessos no roteiro e incluir atividades que promovam a conexão com o local são pontos fundamentais. A imersão em experiências culturais e a prática de atividades alegres também contribuem. Em contraponto, evitar roubadas e manter a calma em possíveis imprevistos são atitudes importantes. Além disso, a interação respeitosa com as comunidades visitadas pode trazer novas camadas de descobertas ao viajante e mais memórias marcantes da viagem”, conclui.

O e-book intitulado “Bem-estar e viagens: um guia para experiências positivas e significativas” foi lançado este ano, em uma parceria entre o Programa de Pós-graduação em Turismo da UFF e o Programa de Pós-graduação em Turismo da USP, com financiamento parcial Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Acesse o livro em:
http://ppgtur.uff.br/images/2023_Oliva_Santos-Silva__Mayer_Bem-estar_e_Viagens.pdf

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Verônica Feder Mayer é professora associada da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF). É bacharel em comunicação social e publicidade (UFF), possui MBA em marketing e mestrado em administração pelo Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Durante seu doutorado em administração (COPPEAD/UFRJ) desenvolveu parte de sua pesquisa nos EUA sob a supervisão do Prof. Kent B. Monroe, da Universidade de Illinois at Urbana-Champaign, aprofundando seus estudos sobre comportamento, psicologia dos preços e economia comportamental. Recebeu bolsa de pós-doutorado CAPES/PNPD (2018-2019) para desenvolver pesquisas sobre economia comportamental aplicada ao turismo na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP).

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