UFF pesquisa substância que induz a morte de células do câncer de mama

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O estudo aborda também a eficácia das substâncias analisadas contra vírus como HIV-1, arbovírus e coronavírus, com resultados promissores.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é a primeira causa da morte por câncer nas brasileiras, especialmente no sul e sudeste. Para cada ano entre 2023 e 2025, foram estimados 73.610 casos novos, o que representa uma incidência de 41,89 casos por 100.000 mulheres. Para contribuir com essa luta, as pesquisadoras da Universidade Federal Fluminense (UFF) Maria Cecília Bastos, Fernanda Boechat e Letícia Villafranca desenvolveram um estudo que induz a morte das células do câncer de mama, por meio de modificações químicas em quinolonas, estruturas presentes em antibióticos usados para o tratamento de diversas infecções bacterianas, por exemplo.

As professoras verificaram que as moléculas desenvolvidas na pesquisa conseguiram inibir o crescimento de células tumorais de câncer de mama, por meio do mecanismo denominado “indução de estresse oxidativo". Esse estresse é responsável por provocar a morte das células cancerígenas, o que provoca a erradicação do tumor. Já na segunda etapa, o modo de ação utilizado foi o chamado “ativação da morte celular por autofagia”, que pode ser comparado a um processo de “reciclagem celular”. As substâncias pesquisadas não apresentam toxicidade para as células sadias. Essa seletividade é importante, para reduzir os efeitos adversos que afetam a adesão ao tratamento oncológico da doença, considerados desconfortáveis por muitos pacientes.

Na pesquisa, foram desenvolvidos novos híbridos da substância do tipo fosfonato de aciclonucleosídeo de 4-oxoquinolina-3-carboxamidas, que foram sintetizados como agentes antitumorais e examinados quanto à sua toxicidade em simulações por computador. Os seus derivados nomeados como - 15c, 15e, 15g e 15k - mostraram citotoxicidade, ou seja, capacidade intrínseca de um material em promover alteração metabólica nas células cancerígenas em cultura, que, ao serem postas em um meio artificial, simula um meio natural para sua proliferação, podendo culminar ou não em morte celular.

Nesse sentido, foram observados resultados positivos, sendo que 15c induz a perda mais considerável de viabilidade celular da linhagem tumoral, ou seja, impede sua proliferação, induzindo a um fenômeno conhecido como apoptose - um processo fisiológico natural conhecido como a morte programada pela própria célula. Já a substância 15k induz morte celular por necrose, ou seja, uma morte celular causada por um fator externo. Os estudos de toxicidade em simulações no computador mostraram que a substância 15g apresentou baixo risco de toxicidade no fígado e que esse derivado é um candidato potencial para o desenvolvimento de novos agentes anticancerígenos.

Ao abordar a relevância da pesquisa sobre o câncer de mama, a professora Fernanda destaca um fator que deve ser considerado, a resistência a medicamentos. “Apesar de ter um protocolo de tratamento já bem estabelecido, o câncer de mama ainda é uma doença  muito importante para ser investigada, porque as células tumorais podem desenvolver resistência aos quimioterápicos existentes. Achamos que somente bactérias e vírus podem desenvolver resistência a medicamentos, mas não, as células cancerígenas também podem desenvolver esse mecanismo; e, se isso acontecer com o medicamento quimioterápico, ele vai perdendo a sua eficácia. Com a questão do câncer de mama, principalmente para as mulheres, é um desafio ainda muito grande, tendo em vista que a cada dia mulheres mais jovens são acometidas por este tipo de tumor”, aponta a pesquisadora. 

Ao longo dos anos, as pesquisadoras e seu grupo desenvolveram  também substâncias capazes de inibir os vírus HIV-1, arbovírus, o vírus causador da herpes e o Sars-CoV-2, este último causador da COVID-19, sendo que os resultados não foram ainda divulgados em função de sigilo. Por conta de uma preocupação das pesquisadoras em relação à eficácia dos medicamentos que já existem no mercado, foram investigadas novas moléculas derivadas de quinolonas capazes de conter o crescimento do vírus da herpes in vitro. Com base nos resultados iniciais, observou-se que esse é um caminho promissor para a produção de novos medicamentos no tratamento de infecções virais.

As descobertas das pesquisas contribuem para a sociedade, visto o impacto positivo que o desenvolvimento de novos medicamentos, com um perfil melhor para ajudar no combate de doenças, pode trazer para a população em geral. Os dois trabalhos foram desenvolvidos em  uma colaboração com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio do grupo de pesquisas que foi coordenado pela Dra Patrícia Zancan,  uma das autoras do projeto.

Para conhecer mais sobre a pesquisa, leia o artigo “4-oxoquinoline-3-carboxamide acyclonucleoside phosphonates hybrids: Human MCF-7 breast cancer cell death induction by oxidative stress-promoting and in silico ADMET studies”. Há também o artigo “Selective AMPK activator leads to unfolded protein response downregulation and induces breast cancer cell death and autophagy”. Por fim, leia também o artigo “Chloroquinolone Carboxamide Derivatives as New Anti-HSV-1 Promising drugs”.

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Maria Cecília Bastos Vieira de Souza é graduada em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado em Química pelo Instituto Militar de Engenharia e doutorado em Química pelo Instituto Militar de Engenharia. Possui pós-doutoramento realizado na University of Oklahoma na área de análise estrutural de produtos naturais por RMN. É professora Titular da Universidade Federal Fluminense, no Instituto de Química, Departamento de Química Orgânica.Tem experiência na área de Química Orgânica com ênfase em Síntese Orgânica, buscando a obtenção de substâncias biologicamente ativas. Desenvolve Metodologias Sintéticas com Análise Estrutural por RMN. As pesquisas abrangem quinolonas, nucleosídeos, aciclo nucleosídeos, heterociclos em geral, quinonas, derivados de carboidratos.

Fernanda da Costa Santos Boechat é graduada em Farmácia Industrial e doutorado em Química Orgânica pelo Programa de Pós-Graduação pela UFF e é professora Associado III do Departamento de Química Orgânica da mesma universidade É bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (PQ-2) e Jovem Cientista do Nosso Estado (FAPERJ). É uma das coordenadoras do Laboratório de Nucleosídeos, Heterociclos e Carboidratos (LNHC). Tem experiência na área de Química Orgânica, com ênfase em Síntese Orgânica, atuando principalmente nos seguintes temas: nucleosídeos, quinolonas e outros heterociclos, carboidratos e macrociclos porfirínicos.

Letícia Villafranca Faro é graduada em Farmácia Industrial, mestrado em Química Orgânica e doutorado em Química pelo Programa de Pós Graduação em Química pela UFF. Tem experiência na área de Química Orgânica e Química Bio Inorgânica, atuando principalmente nos seguintes temas: ciclo nucleosídeo, fosfonatos, quinolonas e outros heterociclos, pdah.

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