Pesquisa da UFF monitora a eficácia de vacina contra a bactéria pneumococo causadora de infecções graves

Crédito da fotografia: 
Angelo Esslinger por Pixabay
Felipe Piedade investiga sistematicamente desde 2010, no município de Niterói, a cobertura da vacina 10-Valente, que previne contra doenças como pneumonia e meningite, especialmente em crianças.

A vacinação é uma das principais conquistas da medicina moderna e tem sido responsável pelo controle de diversas doenças infecciosas no mundo todo. Graças aos estudos científicos de vigilância epidemiológica, que fundamentam as muitas campanhas de imunização realizadas ao longo das últimas décadas, diversas doenças foram controladas e outras até mesmo erradicadas. É importante lembrar que as vacinas não protegem apenas a quem as toma, mas também contribuem para a proteção de toda a comunidade, especialmente aqueles que não podem ser vacinados por razões médicas.

Uma das frentes de pesquisa em vigilância epidemiológica na Universidade Federal Fluminense é desenvolvida pelo professor Felipe Piedade, do Instituto Biomédico, que se debruça na compreensão das doenças pneumocócicas causadas pela bactéria Streptococcus pneumoniae, um importante agente de infecções hospitalares e comunitárias. A bactéria, também conhecida como pneumococo, faz parte da lista da OMS de patógenos resistentes a antibióticos que representam grande ameaça à Saúde Pública e pode transmitir aos humanos doenças infecciosas como pneumonia, meningite e sepse, que podem ser graves e, até mesmo, fatais.

Nesse contexto, as vacinas pneumocócicas se tornaram uma importante ferramenta para a prevenção dessas doenças. No Brasil, a vacina disponibilizada pelo SUS através do Programa Nacional de Imunizações (PNI), desde 2010, é a denominada Vacina Pneumocócica 10-valente (VPC10), aplicada em crianças de até cinco anos. O professor Felipe é bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ e conta que tem desenvolvido suas pesquisas no município de Niterói desde 2009. “Quando existe vigilância epidemiológica ativa, é possível determinar os patógenos que circulam na população. São eles que determinam o que pode causar doença”, destaca.

Em 2010, o pesquisador liderou um estudo de colonização que visava investigar a presença de Streptococcus pneumoniae na população pediátrica de Niterói em sua forma assintomática, ou seja, na etapa em que a bactéria é apenas encontrada no trato respiratório superior da criança, sem causar a infecção. Nesse estudo observou-se que haviam tipos - ou, como são chamados, sorotipos - de pneumococo que a vacina 10-valente protege, circulando entre as crianças do município. “A expectativa na época era de que a chegada VPC10 diminuísse não só a incidência das doenças, que é o que a imunização se propõe a fazer, mas também a de colonização, ou seja, que eliminasse a bactéria do trato respiratório superior. Dessa forma, o micro-organismo não pode mais ser transmitido para outros indivíduos, sejam outras crianças ou mesmo outras faixas etárias que não são vacinadas com a VPC10”.

Em 2014, a pesquisa foi feita novamente com a população pediátrica de Niterói e, neste segundo momento, foi observado que os sorotipos contidos na vacina 10-valente haviam sido virtualmente eliminados. “A cobertura vacinal da população estava alta, em torno de 94%. Mas, como aconteceu em outros países, também houve um fenômeno chamado substituição de sorotipos. Esse é um evento em que sorotipos vacinais foram eliminados, e criou-se um vazio ecológico que precisa ser preenchido por algum outro micro-organismo. Quem preencheu essa lacuna foram outros sorotipos de Streptococcus pneumoniae que não eram cobertos pela vacina 10-valente”, explica Felipe.

Em 2019, o pesquisador voltou a fazer essa pesquisa e observou que os sorotipos prevalentes encontrados na população pediátrica de Niterói podem ser combatidos por uma vacina pneumocócica mais abrangente, a 13-valente (VPC13). “Essa vacina, assim com a 10-valente, está disponível no Brasil desde 2010. Porém, apenas na rede privada. No SUS, a 13-valente passou a ser aplicada de forma gratuita a partir de 2019 apenas para indivíduos com mais de cinco anos, ou seja aqueles que não tomam a 10-valente, e que sejam considerados de altíssimo risco para desenvolver uma doença pneumocócica. Eles são: os pacientes vivendo com HIV ou AIDS, os pacientes transplantados e os oncológicos”.

O problema é que, de acordo com o professor, esta não é uma vacina barata para aplicação individual em clínicas privadas, o que a torna inacessível para outras parcelas da população brasileira que também são vulneráveis e precisam se imunizar. “A 13-valente tem uma tecnologia de custo muito elevado para ser adquirida. Nesse caso, uma outra alternativa seria a atualização da vacina 10-valente disponibilizada pelo SUS. Instituições de saúde pública já estão tentando desenvolver uma nova vacina, incorporando na 10-valente os sorotipos prevalentes atualmente contra os quais ela não protege. Como os cientistas brasileiros dominam a tecnologia utilizada na 10-valente, sairia mais barato fazer esse upgrade”, conclui Felipe.

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