Projeto Gerando Sorrisos da UFF realiza ações na Comunidade do Morro do Estado, em Niterói

Crédito da fotografia: 
Pixabay
Através de ações educativas e preventivas com a saúde bucal de gestantes, o projeto possibilita a futura transmissão positiva de hábitos de higiene

O projeto Gerando Sorrisos, da Faculdade de Odontologia da UFF e com a coordenação da professora Lucíola de Luca, foi desenvolvido a partir do desejo de levar algum benefício acadêmico e odontológico para os moradores da comunidade do Morro do Estado, localizado em Niterói, no Rio de Janeiro. A comunidade, caracterizada por uma forte segregação socioespacial e composta inclusive por mulheres que ainda podem engravidar, conta com uma Unidade Básica de Saúde (UBS), que promove o Serviço de Atenção ao Pré-Natal.

Até 2019, quando o projeto teve início, não havia um atendimento odontológico integral como sugere a promoção de saúde; tampouco se reconhecia a importância do  pré-natal odontológico. Em parceria com a Associação de Moradores, no entanto, tornou-se viável o acesso à comunidade para o desenvolvimento da ação dentro da UBS e o recrutamento de estudantes voluntários. Assim, os participantes começaram a elaborar um série de ações para formalizar a educação de gestantes quanto aos seus hábitos e conhecimentos sobre a higiene bucal. Os Editais de Bolsa e Apoio a Eventos de Extensão foram fundamentais para realização da iniciativa. Além disso, a Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) auxiliou na produção da identidade visual e sua equipe de comunicação teve um papel de destaque, realizando registros de imagem e elaborando um vídeo institucional.

As ações do projeto, que elabora e distribui materiais didáticos na comunidade com foco em compartilhar um pouco do conhecimento científico sobre odontologia dos alunos e professores para as mães, ocorreram em duas edições. Alunos da Faculdade de Odontologia da UFF, munidos de materiais odontológicos e informações, foram até o posto de saúde da comunidade do Morro do Estado, realizaram palestras educativas sobre higiene bucal adulta e infantil, levantamentos das necessidades das pacientes através de exame clínico, doações e sorteios de materiais, encaminhamento dos casos mais graves para as clínicas multidisciplinares da universidade e distribuição de folder educativo. De acordo com a professora da Faculdade de Odontologia da UFF e coordenadora do projeto, Lucíola de Luca, o material informativo impresso foi elaborado com o intuito de sedimentar as informações e deixá-las palpáveis, facilitando a compreensão, desmistificando conceitos equivocados e crenças populares, e reforçando atitudes positivas.

“As comunidades vulneráveis têm pouco ou nenhum acesso ao atendimento odontológico, desconhecem a importância do pré-natal odontológico e sequer sabem dos benefícios que os procedimentos básicos de higiene bucal podem proporcionar. O período da gravidez constitui um momento de transformações na vida da mulher, que passa por alterações emocionais, físicas e fisiológicas. Neste momento, elas incorporam as informações sobre saúde melhor do que em qualquer outro período de suas vidas, constituindo-se em um grupo de especial atenção para educação em saúde. Ações com esse escopo promovem saúde, geram melhoria na qualidade de vida e autonomia. E o conhecimento reverbera. Muito além de conhecimento científico, geramos a sensação de pertencimento, elas se sentem acolhidas e são gratas porque alguém as enxerga”, destaca a coordenadora.

Dados do IBGE de 2019 mostram que 34 milhões de brasileiros com mais de 18 anos perderam 13 dentes ou mais, e 14 milhões de pessoas perderam todos os dentes. Nesse cenário, a conscientização e adoção precoce de hábitos visando à promoção da saúde bucal é determinante para o adulto. Para isso, constata-se a vantagem da abordagem educativa e preventiva em relação ao tratamento odontológico, a qual possibilita um alcance populacional maior, proporciona a melhoria de qualidade de vida pela adoção de hábitos saudáveis precocemente, e diminui a demanda de tratamento com consequente redução de custos.

Como explica a coordenadora do projeto, “uma criança precisa de exemplo, orientação e monitoramento constante, até alcançar a maturidade para reconhecer a importância do autocuidado para a saúde bucal. Nesse contexto, entendemos que o êxito depende fundamentalmente da participação da mãe e de visitas regulares ao consultório odontológico, para monitoramento da saúde e reforço dos conceitos preventivos”. Dessa forma, a eficiência e eficácia dos serviços de saúde pública e, sobretudo, os benefícios para a saúde das populações, são inquestionáveis.

Com a participação das futuras mães no projeto, principalmente nas comunidades onde parte delas são mães solteiras, seus filhos passam a ter exemplos mais fortes sobre higiene bucal. De acordo com a aluna de Odontologia na UFF e participante do projeto, Mireli Araújo, “se a mãe toma consciência de que a saúde começa pela boca e o tamanho da importância da higiene bucal, ela vai reproduzir esse cuidado em seu bebê, limpando sua boca a cada mamada, introduzindo a escova de dente quando esse bebê tiver seus primeiros dentinhos e isso fará com que essa criança tenha prazer no cuidado odontológico, pois isso fez parte de sua rotina desde sempre”. Assim, a longo prazo, toda uma comunidade pode ser mudada e beneficiada com essa corrente de exemplo e ações.

Mas não somente as futuras mães e seus filhos são beneficiados por esse projeto: os estudantes de odontologia participantes da iniciativa levam consigo uma bagagem muito rica em termos de experiências. As trocas entre aluno e a comunidade alvo, a vivência de um experimento sociocultural e econômico diferente da maioria dos pacientes das clínicas particulares, e a oportunidade da troca de saberes com outros profissionais, como a união da odontologia com a nutrição e pediatria para cuidar das mães e bebês.

Mireli afirma que “participar do Gerando Sorrisos foi receber a possibilidade de ampliar horizontes. Ao me envolver com a realidade não só de um paciente, mas de uma comunidade no geral, o projeto me trouxe mais humanidade e a certeza de que um paciente com necessidades odontológicas deve ser examinado e visto além de sua boca. Sua vida socioeconômica, sua etnia, seus medos e traumas influenciam diretamente no modo como esse paciente se enxerga dentro da sociedade e impacta na maneira como ele se cuida. Enfim, esse projeto ampliou a visão dos alunos e professores envolvidos sobre a realidade de uma comunidade vulnerável e sobre como a extensão pode proporcionar mudanças positivas”, finaliza.

Compartilhe