‘Minha Saúde’: rede social e medicina unidas em projeto da UFF

Doutoranda explica o funcionamento da "Minha Saúde". Foto: Sérgio Borsoi Júnior

O uso da tecnologia na medicina é cada vez mais comum, já que pode facilitar o diagnóstico e tratamentos médicos. Alinhado a essa realidade, o Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense (IC-UFF) desenvolve projetos que proporcionam a integração entre as duas áreas. O Instituto pretende no segundo semestre de 2016 dar continuidade ao Projeto “Minha Saúde”, uma rede social voltada inicialmente para idosos e pacientes portadores de problemas cardíacos. O projeto é desenvolvido pelo Laboratório Tempo do IC-UFF.

A professora Daniela Trevisan dará prosseguimento ao projeto iniciado ainda no mestrado da doutoranda de Computação Edhelmira Lima. De acordo com Daniela, a rede social pretende se expandir para abranger outros públicos, além daqueles focados inicialmente. “Pretendo captar alunos de mestrado para aperfeiçoar a rede”, explicou. “Meu objetivo é melhorar sua interface, deixando-a mais simples, assim como fazer uma parceria com o Facebook para alcançar um público maior e usar sensores móveis para monitorar as atividades fisiológicas do paciente, como batimentos cardíacos e pressão arterial”.

A rede social foi desenvolvida para promover a interação entre pacientes com o mesmo diagnóstico médico. Através dela, eles trocariam mensagens, publicariam seu estado de saúde e dados clínicos como, por exemplo, pressão arterial. “O objetivo é integrar essas pessoas para motivar o tratamento. Além disso, a rede tem o papel de monitorá-los, a partir das informações compartilhadas”, explica Edhelmira.

“Os dados coletados no projeto ‘Minha Saúde’ podem ser utilizados pelos médicos para observar o padrão comportamental daquele grupo, já que na rede os sintomas são registrados pelos usuários”, esclarece a doutoranda. “Esse plano de cuidado aponta, por meio de um diagrama, as alterações fisiológicas daquele paciente ao longo do dia. A partir da análise do diagrama a equipe médica pode avaliá-lo melhor”, complementa Edhelmira, que ao longo da pesquisa contou com a participação de profissionais da medicina da área de cardiologia.

De acordo com Edhelmira, outra função da rede é auxiliar no atendimento do paciente que demonstre uma grave alteração no seu estado de saúde. “Se for observado um agravamento no quadro clínico do paciente, o monitor responsável por analisar os dados de tempo em tempo pode acionar o atendimento médico àquela pessoa, facilitando seu socorro”, explica.

Dificuldades

A pesquisa foi coordenada pelo professor Orlando Loques do IC-UFF e contou com a participação de 45 pacientes do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), entre idosos e cardíacos. Ao iniciar o projeto, foi descoberto que um considerável percentual daquele grupo não sabia manusear o computador ou simplesmente não o possuía. “Para que pudéssemos prosseguir, providenciamos internet e computadores para aqueles que não tinham”, acrescentou Loques. Outro percalço apontado por Loques foi a interface da rede social, que confundia os idosos. Para contornar o problema, foram feitas adaptações para amenizar as dificuldades encontradas na navegação.

De acordo com o professor, a viabilidade nos usos de aparelhos para acompanhar os aspectos fisiológicos é mais um empecilho do trabalho. “O nosso objetivo foi comprovar que é possível usar a tecnologia no acompanhamento médico, além de demonstrar a viabilidade do projeto. No final, conseguimos bons resultados. Mas para que esteja ao alcance da sociedade é necessário que os aparelhos usados no monitoramento sejam mais acessíveis”, argumentou Loques, que também criticou a burocracia no processo de importação desses aparelhos.

Sciads

A rede social surgiu a partir do Sistema Computacional Inteligente de Assistência Domiciliar à Saúde (Sciads), coordenado por Loques, cujo objetivo era monitorar a saúde do paciente dentro de sua própria residência. O processo era realizado por meio de sensores móveis que transmitiam essas informações a um banco de dados. “O acerto no diagnóstico feito por meio dos dados colhidos pelos sensores foi de 100%”, explica. “Ao longo da pesquisa foi feita uma comparação entre o laudo feito pelo Sciads com o de outros médicos, a conclusão foi satisfatória e os resultados consoantes”, argumenta. Os dados, segundo o coordenador, foram coletados ao longo do dia, contabilizando todas as alterações, e enviados para uma central via internet para seu armazenamento.

Metamodelo

Além do Sciads e da Minha Saúde, outro projeto em andamento desenvolvido pelo Laboratório Tempo também promove o uso da tecnologia com aplicação na medicina. Desenvolvido pela doutoranda Edhelmira, o trabalho é coordenado pelo professor Loques e pelo professor José Viterbo, membro do IC-UFF.

De acordo com a doutoranda, a pesquisa tem o objetivo de criar um sistema de integração, em que será possível o acesso a todos os dados do paciente coletados ao longo da sua vida e seu estado de saúde. “Por meio do metamodelo, os médicos poderão acessar os exames antigos – que geralmente se perdem ao longo do tempo – e o seu histórico de doenças. Isso permitirá que os dados do nascimento até a morte do paciente sejam acessados com facilidade”, explica.

Apesar de o projeto estar em fase inicial, Viterbo aponta a privacidade como uma das questões a serem resolvidas. “Um debate que surge na criação do metamodelo é o fato de a pessoa ter seus dados disponíveis no sistema, o que pode atrapalhar sua entrada em uma vaga de emprego, por exemplo, uma vez que qualquer empresa – ou o Estado – pode ter acesso a essas informações”, aponta Viterbo. Edhelmira, no entanto, enfatiza a importância do aval do paciente antes da disponibilização de seus dados.

Segundo Loques, o metamodelo auxilia também no mapeamento das doenças de uma determinada região geográfica, facilitando diretamente o trabalho para combatê-las. “O intuito é criar uma linguagem padrão para que os dados se comuniquem, facilitando seu acesso e, consequentemente, dando celeridade ao trabalho da medicina”, finaliza.

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