Projeto na UFF testa método sustentável de cultivo de peixes integrado a macroalgas marinhas

Com um litoral de 636 quilômetros de extensão (8,6% do total brasileiro), o estado do Rio de Janeiro possui, tradicionalmente, vocação para a atividade pesqueira. Segundo a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), o estado abriga o segundo maior mercado consumidor de pescado do País. Com o objetivo de desenvolver uma alternativa sustentável para a produção pesqueira fluminense, um projeto em curso na Universidade Federal Fluminense (UFF) testa, por meio de experimentos em aquários, um sistema integrado de cultivo de peixes com algas marinhas, que possuem potencial de biorremediação – ou seja, elas filtram as águas salinas residuárias da piscicultura. A ideia é avaliar a efetividade das macroalgas marinhas como biofiltros neste sistema de criação, e ao mesmo tempo incentivar a criação de espécies de peixes marinhas e provenientes de estuários (região da foz dos rios, onde misturam-se águas doces e salgadas), com potencial de cultivo a nível nacional.

O projeto é coordenado pela zootecnista Alejandra Filippo González Neves dos Santos, professora da UFF e doutora em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais pela Universidade Estadual de Maringá. Ela desenvolve seus estudos com apoio da FAPERJ, pelo programa Jovem Cientista do Nosso Estado. “Há uma lacuna em relação a estudos que integram esses dois cultivos com espécies marinhas no País”, observou. "Esta proposta de sistema integrado é uma tecnologia inovadora e sustentável, pois as macroalgas maximizam o uso da água e reutilizam os nutrientes excretados pelos peixes para seu próprio crescimento, ao mesmo tempo, disponibilizam a água tratada, que pode ser reaproveitada para a criação dos peixes", acrescentou.

Alejandra destaca que a limitação de água e a crescente preocupação com o meio ambiente vêm mudando a forma como se desenvolve a Piscicultura. “O método tradicional de criar peixes em sistemas de viveiros escavados, com fertilização química e orgânica para aumentar a produção primária e fornecer alimento para os peixes, está seriamente comprometido, não pelo volume de água utilizado, mas sim pelo efluente lançado no meio ambiente. Precisamos desenvolver sistemas produtivos, economicamente e ambientalmente inovadores, que aperfeiçoem a eficiência de produção e mantenham a integridade dos ecossistemas usados”, justificou a pesquisadora.

Para isso, ela vem coordenando a realização de testes no Laboratório de Ecologia Aplicada, localizado na Faculdade de Veterinária da UFF, em Niterói, envolvendo a combinação do cultivo de diversas espécies de macroalgas marinhas (Ulva sp., Kappaphicus sp., Caulerpa sp. entre outras) e de peixes estuarinos e marinhos (Robalo, Peixe-Palhaço, Cavalo-Marinho, entre outros). “As macroalgas marinhas, ricas em carragenana, são usadas como agente estabilizante, gelatinizante, espessante e emulsificante, estando presentes em alimentos, fármacos e cosméticos. Além disso, elas têm grande capacidade de filtração de nutrientes dissolvidos na água, o que caracteriza sua importância na Maricultura de forma sustentável. Já as espécies de peixes estuarinas e marinhas escolhidas vêm sendo estudadas para estimular seu potencial na Piscicultura brasileira”, explicou.

Os experimentos, realizados em condições controladas de temperatura, salinidade, oxigênio dissolvido e luminosidade, são desenvolvidos em aquários com juvenis de peixes e macroalgas marinhas. “Trabalhamos com aquários de 50 litros e peixes de dois a cinco centímetros. Mantemos de 10 a 15 peixes por aquário. No caso das macroalgas, avaliamos seu papel biofiltrador usando diferentes densidades, seja em porcentagens baixa, intermediária e elevada. As macroalgas são cultivadas no mesmo aquário dos peixes”, detalhou.

Alejandra espera que os estudos possam apontar caminhos para a formulação de novas biotecnologias para o desenvolvimento do setor pesqueiro e da Maricultura fluminenses. “Esperamos com esta pesquisa oferecer informações e subsídios para desenvolvimento de programas de conservação e sustentabilidade, trazer benefícios científicos com a biorremediação dos efluentes e diversificação da produção, fomentar uma tecnologia inovadora, com possibilidade de gerar produtos de valor econômico, e estimular a Piscicultura marinha nacional”, concluiu.

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