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Bambucicleta: curso de Desenho Industrial incentiva inovações sustentáveis

Criado em 2011, o curso de Desenho Industrial da UFF, habilitação em Projeto de Produtos, tem como objetivo principal capacitar o estudante com as competências necessárias para a criação de produtos, serviços e sistemas adequados, inovadores e inseridos no contexto tecnológico atual, tornando-o capaz de participar da estruturação da sociedade a partir de uma abordagem projetual científica que priorize o ser humano no mundo. O currículo do curso é estruturado em quatro grupos de matérias: prática projetual, base tecnológica, ferramentas expressivas e abertura para o mundo, que são desdobrados em disciplinas e no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Segundo a coordenadora, professora Luiza Helena Boueri Rebello, “nosso foco é formar um profissional que tenha os conhecimentos tecnológicos necessários para atuar numa realidade de crescimento econômico, preparando-o para o desenvolvimento de produtos industriais”.

Para o docente das disciplinas de Projeto, João Carlos Lutz Barbosa, a preocupação com a criação de um desenho industrial sustentável começa a ser passada aos alunos desde o primeiro dia de aula. Além disso, a estratégia é dar ao graduando a capacidade de interagir e se comunicar com outros profissionais envolvidos na área, particularmente engenheiros, que têm na maioria das vezes uma base tecnológica mais sólida. Com experiência na coordenação de projetos de inovação voltados para o design ecológico e de serviços, a educação ambiental e a inovação social, o professor afirma que “o mundo, especialmente o Brasil, vive hoje uma grave crise ecológica, que acaba desencadeando problemas em outras áreas, como economia, política e meio ambiente.

Criar com o que se tem por perto

Restaurar e mudar de lugar mobílias antigas, por exemplo, valorizando o que se tem por perto, é um bom comportamento sustentável, comenta Lutz. Para ele, ser ecológico é estar impregnado da consciência de que podemos criar sempre, mas com o que as pessoas dispõe ao seu alcance. Nesse sentido, informa que há um movimento mundial pelo reuso do que todos têm em casa ou do que é descartado por empresas ou outros indivíduos. “Assim, um móvel que não serve mais na casa dos pais pode ser útil no apartamento do filho. Basta uma pintura ou um tecido novo para que as peças ganhem destaque na decoração sem que para isso seja preciso fabricar coisas novas”, ressalta.

Com essa perspectiva em mente, o aluno Iago Santiago, sob orientação de João Lutz, decidiu tornar sustentável todo o ciclo do uso da bicicleta, incluindo seu descarte. Baiano e morando no Rio de Janeiro há seis anos, seu TCC consiste na criação da “bambucicleta”, um modelo urbano feito com bambu. A iniciativa, que se insere no programa UFF Sustentável, se intitula “Baike: bicicleta urbana de bambu de menor impacto ambiental”.

Segundo o estudante, o trabalho pesquisa a redução dos impactos que a pré-produção desse e de outros veículos causam ao meio ambiente, a partir da diminuição do uso de materiais metálicos e plásticos. Apesar das bicicletas de bambu não serem novidade, pois já estão sendo produzidas em outros países do mundo, como em Gana, na África, por exemplo, a fabricação em escala industrial deste protótipo, usando materiais sustentáveis, encontrados com facilidade na natureza, auxiliaria na diminuição dos problemas ambientais, gerando emprego e renda extra aos moradores das cidades e do campo.

“Na China, por exemplo, já existem “cemitérios”, que são aterros sanitários lotados de bicicletas quebradas. No Brasil, a realidade não é muito diferente. Aqui, quando uma quebra, não é reciclada e vai diretamente para o lixão. Já que andar de bicicleta é uma atividade sustentável, por que não transformá-la em um produto ecológico também? Se forem fabricadas em bambu, depois de jogadas fora, elas se degradam de forma natural e podem até virar adubo para as futuras plantações”, enfatiza o aluno.

Na entrevista a seguir, Iago Santiago aborda outros aspectos da bambucicleta.

O Departamento de Desenho Técnico, do curso de Desenho Industrial, é a única área da UFF que está envolvida com o projeto?

Atualmente, sim. Porém, eventualmente utilizo os laboratórios da Engenharia Mecânica, como o Laboratório de Tecnologia Mecânica (LTM), para fazer trabalhos com metal, como cortar, esmerilhar e lixar. Conto também com a ajuda de amigos e monitores dos laboratórios, em especial da colega Luiza Egger, com o trabalho de beneficiamento da fibra de bananeira.

De que forma a “Bambucicleta” está inserida no programa UFF Sustentável?

A bicicleta de bambu pode conscientizar as pessoas, especialmente os ciclistas, para o uso de materiais sustentáveis e renováveis para a fabricação de produtos de baixa e média complexidade e alta durabilidade. O bambu, que é uma gramínea, tem uma renovação constante na natureza, sua poda não impede seu crescimento, pelo contrário, cresce mais! A planta está sendo usado para recuperar solos degradados, pode ser transformado em produtos artesanais – uma renda extra para os agricultores – e por possuir alta resistência mecânica e física, pode ser utilizado como estruturas para construção de casas e revestimentos em prédios. São várias as possibilidades de uso e com o passar do tempo, só tende a aumentar.

Apenas o bambu é utilizado na fabricação da bicicleta ou há outros materiais utilizados?

Há outros materiais. No primeiro protótipo utilizei um compósito de fibra de bananeira e resina epóxi, além dos demais componentes mecânicos de metal da bicicleta. Porém, ainda farei testes utilizando um método de beneficiamento diferente da fibra de bananeira e também usando uma fibra de plástico, dessa vez com resina de mamona, que é mais ecológica.

Como ela é produzida?

Primeiramente eu faço o reuso de algumas partes de um quadro descartado de uma bicicleta de metal. Essas peças são essenciais para fazer o encaixe dos bambus no gabarito. Em seguida, eu amarro o compósito da fibra de bananeira na bicicleta até deixar bem firme. Depois é só montar as partes mecânicas e sair pedalando.

Qual a importância do projeto para a UFF e para a sociedade?

O projeto visa consolidar a utilidade da bicicleta no espaço urbano que ainda é vista como uma forma de ativismo social, já que as ciclovias e ciclofaixas de Niterói estão em péssimas condições e não são respeitadas pelos motoristas da cidade. Já na UFF, é necessário que haja investimento em novos pontos de bicicletários e facilidade no acesso das bicicletas nos campi. Temos outros projetos que incentivam o uso de bicicletas e até mesmo um projeto em desenvolvimento na Engenharia Ambiental, o Bike UFF, que prevê o compartilhamento de bicicletas entre os estudantes. Esses projetos precisam ser impulsionados e colocados em prática.

Já há alguma bambucicleta sendo pedalada pelos campi da UFF? Quais são as perspectivas do projeto?

Por enquanto não, mas até outubro deste ano já terei um protótipo sendo testado por mim e pelos meus amigos. Futuramente, pretendo começar a vender algumas bicicletas de bambu por um preço baixo para o aprimoramento das técnicas e divulgação da ideia.

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