Núcleo Girassol: cidadania, políticas públicas e meio ambiente em foco

Equipe do Núcleo Girassol - Foto: Letícia Felippe

Inspirado no programa piloto Ecocidades, que foi desenvolvido em 2006 na Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), o Núcleo Girassol - EConsCiencias e EcoPolíticas, vinculado ao Departamento de Análise Geoambiental do Instituto de Geociências da UFF, atua desde 2010 na área de ciência da informação. Ele trabalha com projetos de pesquisa e extensão que abordam os temas Educação em Cidadania, Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável (Linha EConsCiencias) e Governança e Políticas Públicas em Desenvolvimento Sustentável (Linha EcoPolíticas).

O foco do Núcleo Girassol atualmente é na orientação e formação dos alunos de graduação. O objetivo é formar alunos no campo da educação e políticas para o desenvolvimento sustentável, de forma que eles compreendam a realidade brasileira, articulando ensino, pesquisa e extensão. “Temos a educação como meta e partimos da extensão e da pesquisa em seus diversos contextos para contribuir com a formação de estudantes num campo tão importante, mas que ainda carece de clareza”, explica a professora do Departamento de Análise Geoambiental e coordenadora do projeto, Patricia Ashley.

Patricia destaca o papel da extensão para o núcleo, já que são as ações extensionistas que unem a universidade e a sociedade, ressaltando os objetos da pesquisa científica relevantes para a comunidade. “Se ficarmos apenas focados na pesquisa, esquecemos o impacto social. No entanto, a questão ambiental precisa do diálogo, da democracia e da participação de todos”, enfatiza.

A coordenadora esclarece também que o Girassol não atende a interesses privados, mas a instâncias de participação social e do Estado, educadores independentes e instituições de educação, organizações da sociedade civil que defendem os direitos humanos, estudantes, famílias, coletivos e organizações comunitárias. “Nós agimos para a agenda pública, por meio da educação e de políticas para a participação e o controle sociais, a transparência e a formação dos agentes públicos”, observa.

O acesso ao conhecimento de qualidade dá autonomia ao cidadão, por isso atua nas áreas da ciência da informação e da educação. Segundo a professora, para que o trabalho tenha repercussão, é necessário o uso de diversas linguagens, facilitando uma maior integração com o interesse do público. Patricia relata também que o Girassol atua na catalogação das práticas pedagógicas para auxiliar educadores formais, informais e instituições de educação, com o objetivo de que tenham exemplos de aplicações das questões ambientais e de desenvolvimento sustentável.

As duas linhas de pesquisa

O núcleo trabalha com duas linhas de pesquisa: EcoPolíticas e EConsCiencias. A Eprimeira se dedica ao estudo de documentos que expressam políticas para contribuir com a formação e implementação de agendas de desenvolvimento sustentável em várias escalas – municipal, estadual, nacional, latino-americana e global. “Estamos analisando documentos para avaliar a qualidade textual e os objetivos das agendas com que contribuem, além da incoerência ou coerência desses documentos”, conta a coordenadora. A equipe faz análise de processos de elaboração, para verificar se eles têm transparência, qualidade de governança, processo democrático, se trabalham a questão da participação ou não participação, além de analisar os conteúdos de políticas em diversas escalas que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável.

A linha EConsCiencias trabalha a Conscienciologia, conhecida como a ciência da consciência. O foco são as práticas político-pedagógicas, que abordam a formação de consciência e condições para que políticas de desenvolvimento sustentável ocorram. “A questão ambiental não se restringe apenas ao que vemos e ao mostrado pelo geoprocessamento, mas abrange o que pensamos, nossos valores, atitudes, arquitetura, etc.”, afirma.

O núcleo já orientou pelo menos 33 pesquisas, incluindo projetos de extensão, iniciação científica, monitorias, estágios e trabalhos de conclusão de curso. “O interesse dos alunos tem sido nas políticas públicas, mas o interesse principal do núcleo é a educação”, revela a coordenadora. “O trabalho com a graduação é uma delícia, pois os jovens querem entrar em temas que, na minha geração, ninguém dava importância. É uma oportunidade fantástica quando eles nos procuram para trabalhar”, ressalta.

Em suas práticas pedagógicas, a professora utiliza temas que estão em destaque e realiza experimentos sensoriais. “Toda literatura de gestão trabalha o ‘eu’, mas é um ‘eu’ fictício. Nós precisamos agir de forma coletiva. O ambiente de aprendizagem deve ser divertido, prazeroso, deve trabalhar os chacras do coração, mente e sensações”, aponta. “Quando você põe as cadeiras em fileiras, acaba apresentando uma lógica de subordinação, hierarquização e, assim, não conseguimos mudar nossa forma de pensar e agir. O aluno vê apenas as costas do outro aluno, por isso existe uma necessidade sensorial de provocação da mudança de consciência. Devemos trabalhar não só a visão, mas o tato, paladar, audição, o corpo, a autoconsciência, a respiração, a postura, entre outros”, complementa a professora.

Entre as ações que fazem parte das agendas de desenvolvimento sustentável estão a Informação, que é voltada à produção de conteúdos em linguagens fáceis que as pessoas possam aplicar no seu cotidiano, relatórios, métodos, práticas pedagógicas, material didático, conteúdo curricular e publicações. A formação inclui cursos de extensão, eventos, cinedebates, políticas públicas e transparência, pois não basta ter uma agenda e não saber como aplicar. Além disso, há o assessoramento, que visa ao atendimento parlamentar, de fóruns, agentes políticos e professores.

Aplicativo de busca de políticas públicas

O assessoramento terá, em breve, a possibilidade de se aproximar da sociedade, graças ao trabalho da estudante de Ciência da Computação e estagiária de Ciência da Informação, Camille Braga. Ela está fazendo com que o modelo conceitual elaborado pelo núcleo, que analisa políticas e percebe como elas estão colaborando para a agenda de desenvolvimento sustentável, seja transformado num aplicativo para ser usado por todos. “O aplicativo serve para a busca de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável e terá vários filtros, em que os usuários poderão selecionar a lei de interesse e, também, poderão digitar palavras-chaves, pois, às vezes, não se sabe o nome exato do documento”, conta Camille.

O aplicativo, que está sendo desenvolvido desde 2014 – mas operacionalmente em elaboração desde outubro do ano passado – será lançado em sua versão beta em dezembro de 2016. Ele terá opções de uso para desktop, notebooks e dispositivos móveis. Segundo Patricia, o software está sendo desenvolvido em termo de confidencialidade, para que ninguém se aproprie dele e faça uso comercial, pois o objetivo é que ele seja oferecido de forma gratuita. “Fizemos a parceria com a Superintendência de Tecnologia da Informação (STI), que ajudou na parte do desenvolvimento analítico e fornecerá o servidor”, revela.

A bacharel em Ciência Ambiental e integrante do grupo de egressos do Núcleo Girassol, Daiany Ferreira, já catalogou mais de 500 leis municipais. “Nós fizemos uma análise crítica dessas leis, para observar a qualidade do texto e se ele contribui para o desenvolvimento sustentável”, relata Patricia Ashley.

A coordenadora Patricia Ashley avalia todo o trabalho de maneira otimista. “Estamos na fase de brotamento do projeto Núcleo Girassol. Éramos sementes e, agora, estamos na fase de fazer nosso jardim florescer”, conclui.

On Sustainability 2017

Em janeiro do ano que vem será realizado na UFF o evento Internacional On Sustainability 2017, que será a 13ª Conferência Internacional sobre Sustentabilidade Ambiental, Cultural, Econômica e Social. A professora Patricia, que faz parte da comissão organizadora do evento, explica que muitos alunos envolvidos nos projetos do Núcleo Girassol participarão como coautores de trabalhos. A Universidade receberá participantes de todo o mundo e isso dará visibilidade às ações e práticas desenvolvidas no núcleo.

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