Alimentos funcionais e planos dietéticos: Ambulatório oferece assistência nutricional gratuita

Crédito da fotografia: 
Acervo pessoal
Projeto visa propor uma dieta com a inclusão de alimentos funcionais para prevenir doenças e auxiliar na saúde

Com o propósito de oferecer assistência nutricional gratuita à comunidade universitária e externa, a Universidade Federal Fluminense (UFF) disponibiliza o Ambulatório de Dietética e Alimentos Funcionais. Coordenadora do projeto, a professora da Faculdade de Nutrição Manuela Dolinsky explica que o ambulatório surgiu em 2009 com o objetivo de prevenir doenças a partir da inclusão de alimentos funcionais nas propostas de planejamentos nutricionais dos pacientes.

Alimentos funcionais são um grupo que, além dos nutrientes que possuem, contêm substâncias que previnem doenças crônicas como diabete, câncer e doenças cardiovasculares — “doenças que mais matam adultos e idosos na atualidade no Brasil e no mundo”, segundo a docente. Essas substâncias, chamados compostos bioativos, têm como principal grupo os polifenóis, explorado na pesquisa em desenvolvimento “Relação do consumo de polifenóis dietéticos com a composição corporal de mulheres em idade reprodutiva”, da vice-coordenadora do ambulatório Thalita Vicente.

De maneira geral, o ambulatório atende a todos os públicos, mas o perfil principal dos pacientes que procuram o projeto é de mulheres adultas, a maioria da comunidade universitária ou do entorno da universidade, que buscam atendimento com motivos que vão desde a prevenção de doenças crônicas ao emagrecimento saudável. Para Dolinsky, várias variáveis explicam porque é esse o perfil de pessoas que buscam o ambulatório: “A primeira delas é que a categoria profissional de Nutrição é formada principalmente por mulheres, a maioria dos professores e alunos são do gênero feminino, e alguns estudos explicam como a busca por cuidado, saúde e controle de peso costuma ser mais feito por elas”. 

Entre as razões para procura do ambulatório, a principal, comenta Vicente, é a questão das doenças crônicas não transmissíveis, seja por pessoas que já possuem as doenças ou que querem preveni-las por terem pré-disposição a desenvolvê-las. “É importante ressaltar que a dieta ou a alimentação não vai curar nenhuma doença, muito menos as crônicas. Esses alimentos funcionais vão contribuir como adjuvante terapêutico na melhora dos sintomas e do quadro dessa doença de forma geral”, esclarece a vice-coordenadora.

“Ainda, as pessoas procuram o nosso serviço em busca de um processo de emagrecimento, algo que depois das doenças crônicas não transmissíveis é muito frequente, mas também há mulheres com outras doenças mais específicas. Por exemplo, mulheres em idade reprodutiva  muitas vezes chegam com quadro de endometriose ou síndrome do ovário policístico procurando um auxílio através da alimentação”, comenta.

Letícia Coimbra dos Santos, psicóloga, conta que procurou o ambulatório pela tendência a desenvolver doenças crônicas graças ao histórico familiar de diabete, colesterol alto e pressão alta. “Por eu já ter essa tendência por causa da minha família, minha alimentação começou a me preocupar um pouco”, compartilha. “O segundo fator é porque faço musculação e vi que a minha alimentação não estava de acordo com o que deveria ser por eu estar fazendo atividade física. Outro motivo, que talvez tenha sido o principal, é porque comecei a ter crises de ansiedade, por isso tinha muitos problemas intestinais e sentia muito enjoo, foi quando descobri sobre o ambulatório por outros alunos e marquei a consulta”.

Ela explica que o atendimento no ambulatório “fez total diferença na sua vida” por ser, na época, estudante integral e ter dificuldade em fazer dietas que fossem muito caras. “Eles montaram planos para mim de acordo com a minha realidade financeira e também que fossem coisas que eu pudesse levar para a faculdade. Foram maravilhosos comigo e ainda são, porque até hoje faço atendimento lá”.

Além de atendimento aos pacientes, o projeto também cumpre com o tripé de ensino, pesquisa e extensão defendido pela universidade. “Ensino, porque pelo projeto circula o monitor da disciplina de Nutrição Dietética, que faz o planejamento dietético; pesquisa, porque contamos com projetos de iniciação científica e de pós-graduação; e extensão, porque prestamos serviço à população e contamos com diversos bolsistas”. São oito nutricionistas voluntários atuando no ambulatório e cerca de 20 alunos, entre os quais estão bolsistas de monitoria, extensão, iniciação científica, desenvolvimento acadêmico e estagiários voluntários: “O nosso ambulatório nasceu dessa maneira e seguimos construindo e solidificando uma equipe ao longo das décadas”, afirma a professora.

“É um ambulatório com alta demanda, e estamos cumprindo com o papel social da universidade de prestar um atendimento gratuito de alta qualidade para a população”, declara Dolinsky. “Hoje, já atendemos mais de mil pacientes, incluindo o período de pandemia quando o ambulatório foi temporariamente fechado. É com muita felicidade que digo que estamos cumprindo com nosso papel social”, continua.

Somada à relevância do projeto, Vicente alerta para a importância de buscar um atendimento profissional adequado, frente à busca cada vez mais frequente de informações na internet. “Hoje em dia, temos um acesso muito fácil a todas as informações, mas o maior risco delas é que elas não são para todo mundo. Cada ser humano é único, tem um metabolismo e uma fisiologia próprios e não podemos generalizar isso, então não posso fazer a recomendação de um alimento para pessoas no geral sem entender as especificidades delas”, declara. “Isso é muito perigoso porque estamos cheios de fake news nas redes sociais. Além delas, tem várias informações que não são baseadas em evidências. O maior risco disso é as pessoas colocarem a sua saúde em risco, sem a consulta com um profissional adequado, e que seja um nutricionista quando o assunto for alimentação”, conclui.

No ambulatório, o atendimento nutricional é realizado quando o paciente entra em contato pelo perfil do projeto no Instagram (@ambdaf) ou ao ser encaminhado por alguma outra especialidade dos ambulatórios gerais da UFF. São considerados dados sociais, hábitos dietéticos, antropométricos (medições de circunferências, peso e estatura), bioquímicos e demais exames de anamnese geral do paciente para propor uma dieta com a inclusão de alimentos funcionais. Para as mulheres com o perfil definido pela pesquisa “Relação do consumo de polifenóis dietéticos com a composição corporal de mulheres em idade reprodutiva” que concordam em participar do estudo, também é realizado o Exame de Composição Corporal (DEXA).

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Manuela Dolinsky é professora associada e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Alimentos Funcionais (GPeAF) do Departamento de Nutrição e Dietética da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal Fluminense (UFF). É autora dos livros “Nutrição em tempos de pandemia” (Editora Paya, 2020), “Nutrição Funcional” (Editora Paya, 2018), “Nutrição de Vegetarianos” (Editora Paya/ 2017), “Emagrecimento permanente - Nutrição para uma vida saudável” (Editora Roca, 2014), “Recomendações Nutricionais e Prevenção de Doenças” (Editora Roca, 2011), “Nutrição para Mulheres” (Editora Roca, 2010), “Nutrição Funcional” (Editora Roca, 2009) e “Manual Dietético para Profissionais” (Editora Roca, 2008). É professora permanente do Mestrado em Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Medicina da UFF e atualmente é Diretora do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), na gestão de 2021 a 2024.

Thalita Vicente Brandão é mestranda em Ciências da Nutrição pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição (PPGCN-UFF) e nutricionista pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É também integrante do Grupo de Pesquisa em Alimentos Funcionais (GPeAF), onde atualmente está pesquisando os efeitos da ingestão de polifenóis dietéticos na composição corporal de mulheres em idade reprodutiva. Faz atendimento nutricional e supervisiona alunos de graduação no Ambulatório de Dietética e Alimentos Funcionais da Faculdade de Nutrição da UFF.

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